Comentário das imagens expostas


domingo, 4 de setembro de 2016

Honda CRF1000L África Twin – A roda que faltava

      
A Honda nos últimos anos decidiu concentrar todos os seus esforços nos modelos de gama baixa, acessíveis e económicos: a gama CB 500 e a NC e actualizou as VFR. Uma estratégia muito acertada em tempos de crise, mas com isso, todo o resto, gama trail e turística ficou completamente desactualizada, com o consequente desinteresse de potenciais clientes que optaram por outras marcas com ofertas muito mais actuais e interessantes.
Debruçando-nos no segmento do modelo que me leva a escrever este texto – o trail (roda 19’’ e 21’’), há que referir que a Honda está completamente desprovida. Com roda dianteira de 19’’, tem apenas a peso pesada VFR1200X CrossTourer, à qual é quase pecado chamar-lhe trail. A África Twin já foi descontinuada há mais de 10 anos , a Varadero, há uns 6 e a Transalp há mais de 3.
Neste contexto a competência tem repartida toda a cota de mercado de trails, em especial as marcas europeias BMW, KTM e Triumph, as quais têm todo o tipo de modelos com roda 19’’ e 21’’.
Assim, a Honda com a sua África Twin está a tentar recuperar algum terreno perdido, mas atacou na vertente mais radical, ou melhor, mais campestre, impondo umas dimensões completamente enduristas: roda 21” à frente e 18’’ atrás, ambas com câmaras de ar, permitindo-lhe a possibilidade de meter-lhe pneus de tacos 100% de enduro.
Posto em contacto com a moto, a verdade é que, para além do tamanho das rodas e das suspensões, todo o resto dá mais aspecto de uma moto bonacheirona, feita para todo o público, preparada para viajar comodamente com ou sem passageiro.
Considero a moto bonita, com combinações de cores muito harmoniosas, os seus componentes transmitem qualidade e têm qualidade, mas quando vejo aquela roda enorme e fininha (apenas 90 mm de espessura!) pergunto-me, para que quero uma coisa daquelas numa moto que irá andar em terra um par de vezes, e onde, ainda por cima foi privilegiado o conforto.
Posto ao volante, a posição de condução é natural e agradável, pelo menos para a minha estatura. O assento é plano e muito confortável e toda a moto transmite uma sensação de ligeireza muito grande, tanto parado, como em andamento. Uma sensação que coincide com o peso declarado, pois a versão ensaiada, sem ABS, cifra-se em 212Kg.
Os piscas em destaque
Conforme já é apanágio da Honda, as suspensões, da marca Showa, são de excelente qualidade, multi reguláveis. Em consonância com as rodas, são de longo curso: 230mm à frente e 220 mm atrás, reforçando por um lado as suas aptitudes de todo-terreno e por outro conferindo conforto em viagem. Esta característica também se nota quando travamos com alguma firmeza, afundando-se a frente da moto, mas sem perder a consistência e controlo.
O defeito de testar em muito pouco tempo uma nova moto, é que não nos adaptamos às suas particularidades. A Honda nos últimos anos tem alterado nos seus modelos os comandos dos piscas, tendo trocado a posição com a buzina. Resultado, quando por instinto queremos fazer pisca, damos uma buzinadela. Assim, fartei-me de buzinar nas rotundas, nos cruzamentos, etc. Havia necessidade de nesta altura em que está tudo uniformizado em todas as marcas, andar a baralhar coisas destas? Coisas de japoneses…
Onde a Honda tem por costume poupar muito é nos quadros, e parece que neste modelo não foi excepção. Sim, a África Twin, uma moto que custa mais de 13.000€, está dotada de um quadro de aço! Podem existir muitos e diversos argumentos, mas até nas motos de cross puseram um quadro de alumínio. Olhando para a concorrência, a Yamaha 900 Tracer por exemplo, que custa 10.000€, tem um quadro de alumínio!
A buzina, também em destaque
Também tenho que fazer uma breve referência ao quadro de bordo. No computo geral gosto dele, com o seu fundo azul escuro e dígitos brancos. É todo digital, está muito completo, com todo o tipo de informação. Acresce que tem a facilidade de dois botões na pinha esquerda, permitindo com um mudar de menu e com outro seleccionar o item desejado. Neste quadro não gostei do facto de ser todo digital, pois à distância que está, pelo menos para mim, não vejo claramente os dígitos (de dia, com sol). Ainda menos me convence o conta-rotações digital, de difícil leitura. As únicas coisas que se vêem claramente é a velocidade instantânea e a velocidade engrenada.
Por outro lado, o quadro de bordo, como está elevado em relação à posição de condução, puseram-no numa posição quase vertical, um pouco inusual, que a mim não me cai bem e se a condução se faz de pé (muito usual em todo-terreno), pior ainda. Ademais o cabo de embraiagem interfere um pouco com a sua parte de baixo (ver na foto).
Outro aspecto menos bem conseguido são os piscas da frente. Como a carenagem é bastante elevada, aí estão eles a ocupar um lugar de honra no campo de visão, tal qual as orelhas de um burro (caídas). Disseram-me que nas versões com ABS, os piscas já são em led, um bocadinho mais finos, e por isso mais discretos…
As duas primas...
Resumindo, no breve contacto que tive com a moto, parece-me ser um produto bem conseguido, de qualidade e equilibrado dinamicamente. O motor é tradicionalmente Honda, cheio de potência e binário desde baixas rotações e agradável de utilizar. O preço, 13.000€ (sem despesas), pode parecer à partida barato, mas se lhe juntarmos itens quase indispensáveis como são os punhos aquecidos, descanso central, malas, ultrapassa com facilidade os 15.000€, deixando assim de ser tão acessível. Nesta versão média, ademais do ABS, também inclui o controlo de tracção com 3 posições. Aqui também denota uma contradição – uma moto completamente direccionada para o campo com controlo de tracção? É verdade que em matéria de segurança nunca é demasiado, e como este controlo é meramente electrónico e desconectável, aceitamos o dispositivo como sendo uma prenda da Honda…
A Honda CRF1000L África Twin é uma moto que cativa ao primeiro olhar e não decepciona ao vê-la em pormenor e ao andar nela. No entanto, aqueles que são mais exigentes, notam pormenores que, não afectando a qualidade ou a dinâmica em geral, leva-nos porém a vacilar e voltar a olhar para a concorrência, onde são mais detalhistas e coerentes naquilo que disponibilizam.
Foi exactamente neste, o estado em que fiquei: a vacilar.

O problema é que quando vacilamos, acabamos por comprar outras marcas (já antes me aconteceu o mesmo), muitos mais atentos e coerentes, onde esses “maus” detalhes estão reduzidos ao mínimo e em constante melhoria.

A moto foi gentilmente cedida pela Motoboxe para "drivetest".

2 comentários:

  1. Companheiro.
    Tenho que começar a atacar... A Honda VFR1200X Crosstourer é sem duvida pesada. Mas ( e a sempre um mas, em ordem de marcha não acusa o peso ).É uma mota de linhas bem atuais com muita qualidade de construção e de acabamentos. O motor é sem dúvida o ponto alto da mota. Simplesmente perfeito. Não foi ao acaso que no Les a Les fartamo-nos de ver este modelo. Tem uma relação preço qualidade imbatível, na minha opinião.
    Mas como estamos aqui para falar da Africa Twin aqui vai...
    Essa mota foi uma desilusão para mim pois mantenho a opinião que já tinha-mos falado. Face as imagens que foram aparecendo antes do lançamento e todo o potencial para salientar o nome CRF1000 que a Honda tem, aparece com este resultado final .......... DESILUSÃO .........
    Jogaram uma vez mais pelo seguro, procuraram uma mota consensual que agrade a Gregos e a Troianos pois no fundo as vendas é que interessam.
    Compreendo, Gosto ??? sim, mas o que realmente poderia ter saído .... AUUUUUUU !!!!!
    Quanto a condução. Não posso exprimir pois nunca experimentei nenhuma contudo temos que ter a noção que é uma mota de 13.000 € sendo assim seguramente estará mais que satisfatória a relação preço qualidade.
    Mas claramente neste momento não seria a minha opção.

    Abraço
    Filipe Lage

    ResponderEliminar
  2. Caro amigo,
    Estou completamente de acordo contigo, mas esse tema de que em andamento não se sente o peso, é mais um argumento de venda do que outra coisa, pois eu também ando com ela parada - por na garagem, tirá-la, pequenos movimentos, por no descanso... Ufff! Já quanto transpirei a empurrar uma moto! E garanto-te que 30Kg em 250, faz muita diferença!

    A África Twin está de reserva. Não a posso descartar porque sei que nunca surgirá aquela moto que eu consideraria perfeita para mim. Pelo menos parece-me ser divertida como a minha Transalp e isso já é muito importante!

    Um abraço

    ResponderEliminar